segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

VAI ANO VELHO

VAI, ANO VELHO

Vai, ano velho
vai com tuas dúvidas
e dúvidas, vai, dobra a ex-
quina da sorte, e no trinta e um,
a meia noite, esgota o copo
a culpa do que nem me lembro
e me cravou entre janeiro e dezembro

Vai, leva tudo: destroços,
ossos, fotos de prsidentes,
beijos de atrizes, enchentes,
secas, suspiros, jornais.

Vade retrum, pra trás,
leva pra escuridão
quem me assaltou o carro,
a casa e o coração.
não quero te ver mais, só daqui a anos,
nos anais, nas fotos do nunca-mais.

Vem, ano novo, vem veloz,
vem em quadrias, aladas, antigas
ou a jatos de luz moderna, vem,
paira, desce, habita em nós,
vem com cavalhadas, folias, reisadas,
fitas multicores, rabecas, vem com
uva e mel e desperta
em nosso corpo a alegria
escancara a alma, a poesia, e por um
instante, estanca
o verso real, perverso
e sacia em nós a fome
- de UTOPIA.

Vem na areia da ampulheta com a
semente que contivesse outra se-
mente que contivesse ou-
tra semente ou pérola
na casa da ostra
como se
Se
outra se
mente pudesse
nascer do corpo e mente
ou do umbigo da gente como o ovo
o sol a gema do ano novo que rompesse
a placenta da noite em viva flor luminescente

Adeus, tristeza: a vida
é uma caixa chinesa
de onde brota a manhã.
Agora
É recomeçar
A UTOPIA é urgente
entre flores e urânio
é permitido sonhar.

(Afonso Romano de Sant’Anna)

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